Substância pode causar pânico e lesões no cérebro
Uma nova droga, apreendida em março pelo Denarc, pode causar danos irreversíveis aos usuários. Trata-se de uma substância conhecida como dimetiltriptamina ou DMT. Além de ataques de pânico, a droga pode causar danos ao cérebro que podem não ter volta.
Comercializada pela internet, o DMT é vendido em pequenas doses, em geral, enviadas pelos traficantes por meio dos Correios. Em março deste ano, após uma denúncia, o Denarc apreendeu duas doses da droga, remetidas a uma pessoa da Região Metropolitana.
– No princípio achamos que fosse heroína, mas depois de alguns testes, verificamos que não era compatível – conta o delegado Luis Fernando Martins Oliveira, responsável pela apreensão.
O delegado aguarda ainda que o Instituto Geral de Perícias receba, dos Estados Unidos, um kit de produtos químicos para que possa analisar a droga. De cor alaranjada, o DMT tem uma textura semelhando à do açúcar cristal. Pode ser fumada, injetada ou ingerida.
- Alucinações e surtos psicóticos
Alucinógena, a droga tem a mesma substância ativa do chá utilizado em rituais religiosos, como Santo Daime. Conforme o coordenador do Ambulatório de Dependência Química do Hospital São Lucas da Puc, o psiquiatra Pedro Eugênio Ferreira, em geral, o DMT causa alucinações e surtos psicóticos.
– O risco é de danos de transtornos psiquiátricos, como surto psicóticos, quando a pessoa ouve vozes ameaçadoras ou acredita estar vendo pessoas lhe perseguindo. Há casos de ataques de ansiedade, de pânico – alerta Pedro.
Por enquanto, o delegado Fernando acredita que a droga esteja chegando em pequenas quantidades aos usuários gaúchos. Ele acredita que o alucinógeno esteja circulando em festas raves, onde o consumo de LSD e Ecstasy é comum.
– O DMT pode matar. O maior risco é de que o usuário, neste estado de pânico, venha a ser morto, se matar, ou acidentar-se. Mas combinado com outras drogas, a substância pode causar danos graves e levar à morte – adverte o psiquiatra.
- Produto é obtido por contato na Internet
Reportagem da RBS contatou um fornecedor a partir do MSN na Internet. Ele tem comunidade no Orkut com o nome de Fornecimento. Ele diz que é de Sinop (MT) e vende todos os tipos de vegetais alucinógenos.
Veja parte da conversa:
Repórter: É do Fornecimento?
Vendedor: Quer falar com Xamã? É ele mesmo.
Repórter: Falei contigo pelo MSN, quero DMT puro.
Vendedor: Posso providenciar puro também.
Repórter: Como fica daí?
Vendedor: Pra Porto Alegre, vai custar R$ 222.
Repórter: Mas é puro mesmo?
Vendedor: Daí é forte, é muito rápido e forte. Já o chá demora mais tempo, porém é mais levinho.
Repórter: O pó cristalizado é mais rápido?
Vendedor: É rápido. Segundos. Mais intenso.
Repórter: Como faço pra me enviares isso?
Vendedor: Me manda um e-mail agora, com nome, endereço completo, CEP, que mando por sedex.
Repórter: Manda como, em saquinho?
Vendedor: Sim, em saco.
- Os efeitos da DMT
Como a droga funciona no corpo:
O DMT aumenta a produção de neurotransmissores (substância química produzida pelos neurônios) como a Dopamina (responsável pelo controle motor) e a Noradrenalina (que provoca excitações física, mental e do humor).
O aumento exacerbado dessas substâncias no corpo provoca delírios. A pessoa passa a ter experiências sensoriais. Em geral, acredita que está sendo perseguida por alguém, ouve o som de vozes com supostas ameaças e existem casos em que veem imagens de coisas que não existem.
Alguns traficantes costumam sugierir aos usuários que utilizem o DMT combinado com antidepressivos para terem sensações mais fortes. Nesses casos, o poder da droga pode provocar um aumento da pressão arterial, infartos ou isquemia cerebral.
Os danos provocados pela droga no cérebro podem ser irreversíveis, pois, em muitos casos, os pacientes não voltam do transe, que drogados e traficantes chamam de viagem. Em geral, os usuários já apresentam sintomas de doenças psiquiátricas, que somente são acentuadas pela utilização do DMT.
O tratamento para pacientes que se envolveram com o DMT é realizado principalmente com terapia familiar e individual. Nos casos mais graves, é usada medicação.
DIÁRIO GAÚCHO| 06/09/2010 | Carolina Rocha e Fábio Almeida
